O papa Francisco e a crítica à “economia da exclusão”

 

Em meditações que escreveu para serem lidas na Via Sacra da Sexta-Feira Santa (18), o papa Francisco voltou a criticar a “economia que mata”. Este foi um dos últimos atos do primeiro pontífice sul-americano, cujo falecimento foi comunicado na segunda-feira (21) no Vaticano.

A crítica à “economia que mata” esteve presente nas palavras do pontífice ao longo dos 12 anos em que ocupou o Trono de Pedro. A menção apareceu já no primeiro “grande documento” de Francisco, uma exortação apostólica publicada em novembro de 2013.

Na mensagem, o Papa afirmou: “Da mesma maneira que se comanda ‘não matarás’, deve-se dizer ‘não à economia da exclusão e desigualdade’, já que ‘essa economia mata’. Francisco nega a “economia da exclusão”, a “nova idolatria do dinheiro” e o “sistema financeiro que governa em vez de servir”.

“Hoje, tudo está sujeito às leis da competição e da sobrevivência do mais apto, onde os poderosos se alimentam dos impotentes. Como consequência, massas de pessoas se encontram excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem possibilidades, sem qualquer meio de escapar”, escreveu.

Na pandemia de Covid-19, o pontífice reforçou essa visão: em uma carta intitulada Fratelli Tutti (Todos Irmãos, em português), publicada em 2020, Francisco argumentou que as políticas de livre mercado demonstraram ser incapazes de resolver os principais desafios da humanidade.

“O mercado por si só não pode resolver todos os problemas, por mais que façam a gente acreditar nesse dogma da fé neoliberal”, escreveu o papa.

O papa negou símbolos de riqueza ao rejeitar os tradicionais adornos dourados comuns a outros pontífices — incluindo o Anel do Pescador. A postura de Jorge Mario Bergoglio também foi reforçada na escolha do nome de Francisco, conhecido como o santo dos pobres.

Francisco defendeu o combate à desigualdade e organizou no começo deste ano um evento global para debater a taxação dos super-ricos. O encontro contou com apoio de lideranças políticas como o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

O Vaticano descreveu o cenário atual como “um momento crítico, quando os ultra-ricos no poder estão moldando decisões políticas tentando minar a cooperação internacional para a reforma tributária”.

Economia de Francisco

Em 2019, a convocação do papa por uma economia mais inclusiva e que fosse capaz de mitigar desigualdades motivou um grupo de jovens economistas e empresários a debater a pauta.

A comunidade Economia de Francisco (EoF, em inglês) se reúne anualmente e, no ano passado, oficializou uma fundação própria para atuar em três áreas de intervenção: pesquisa-estudo, negócios-inovação e educação-cultura.

Enquanto conversava com uma delegação do grupo, em 2022, Francisco propôs a concepção de uma nova economia em contraposição ao cenário de guerras. O papa questionou o investimento global na indústria bélica, na “economia que mata”.

“A indústria armamentista prospera tirando recursos dos pobres. Vocês sabiam que em alguns países as fábricas de armas são os investimentos que geram mais rendimentos? Ganhar dinheiro para matar enquanto a democracia está ameaçada… o populismo e as desigualdades crescem e o planeta está cada vez mais ferido. Não é fácil, aliás é muito difícil”, ponderou.

Em participação no 4º Encontro da EoF, realizado em 2023, também mencionou a “economia que mata”.

A economia que mata não coincide com uma economia que faz viver; a economia de enormes riquezas para poucos não se harmoniza internamente com os muitos pobres que não têm como viver”, disse o santo padre.

Antes do papado

A defesa de Francisco por uma economia inclusiva e que abrace os mais vulneráveis data de antes do papado. Em 2001, a Argentina passava por uma crise política e econômica, numa turbulência que teve como auge o calote da dívida externa e a declaração de moratória.

À época arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio ajudou a convocar a população do país a rezar uma “oração pela pátria”. O sacerdote pediu atitude dos argentinos por uma política mais inclusiva, indicando que a força de cada um seria essencial para tirar o país da crise econômica.

“Queremos ser uma nação, uma nação cuja identidade é a paixão pela verdade e o compromisso com o bem comum. Dá-nos a coragem e a liberdade dos filhos de Deus para amar a todos sem excluir ninguém, priorizando os pobres e perdoando aqueles que nos ofendem, abominando o ódio e construindo a paz. Jesus Cristo, Senhor da história, precisamos de ti. Amém”, dizia um dos trechos de sua oração.

Francisco foi o primeiro papa latino-americano; relembre sua história

Este conteúdo foi originalmente publicado em O papa Francisco e a crítica à “economia da exclusão” no site CNN Brasil.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Newsletter

Cadastre-se para receber as principais novidades em seu e-mail.

Portal de notícias Dealer Intelligence