Pacote não é suficiente para atacar dívida crescente, diz Maílson ao CNN Money

 

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega expressou preocupação com a eficácia do recém-aprovado pacote fiscal para conter o crescimento da dívida pública brasileira.

Em entrevista ao CNN Money nesta sexta-feira (20), Maílson analisou as recentes mudanças e desidratações sofridas pela proposta durante sua tramitação no Congresso Nacional.

 

 

Segundo o economista, a desidratação do pacote fiscal está mais próxima de R$ 8 bilhões do que de R$ 1 bilhão, como sugerido por algumas fontes. Ele destacou perdas significativas no plano original, incluindo a redução da economia prevista com o fundo do Distrito Federal.

Maílson criticou especialmente a alteração na proposta de regulamentação dos “penduricalhos” salariais do Poder Judiciário e do Ministério Público.

A mudança de lei complementar para lei ordinária limitará a aplicação das novas regras apenas aos juízes e procuradores federais, excluindo os estaduais.

“Foi uma malandragem que tirou juízes e procuradores estaduais da medida, que era mais importante”, afirmou o ex-ministro.

O economista alertou que as medidas aprovadas não serão suficientes para estabilizar a relação entre dívida pública e PIB. Ele estima que seria necessário um superávit primário entre 2% e 3% do PIB para começar a reduzir essa relação, enquanto o governo promete apenas estabilidade.

Apesar da atual calma no mercado financeiro, Maílson não descarta a possibilidade de novas altas no dólar e nos juros futuros.

“Não surpreenderá se em algum momento essa alta desses dois indicadores começar a acontecer novamente, porque o problema básico que gera e gerou a crise de confiança no governo foi a questão fiscal e ela não foi resolvida”, concluiu o ex-ministro.

Mercado caiu na real sobre arcabouço

O ex-ministro ainda disse ao CNN Money que o mercado financeiro “caiu na real” ao perceber que o novo arcabouço fiscal não será suficiente para resolver o grave problema fiscal do país.

Nóbrega apontou que, embora o pacote original contivesse “coisas muito interessantes”, como o ataque aos privilégios da magistratura e do Ministério Público, muitas dessas propostas foram desidratadas durante a tramitação no Congresso.

O economista ressaltou que a opinião unânime entre os analistas é que as medidas não são suficientes para solucionar a questão fiscal.

Ele também rebateu a declaração do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o problema seria de comunicação.

Para Nóbrega, a questão é estrutural e decorre da rigidez sem paralelo da situação fiscal brasileira.

“96% dos gastos primários do governo federal são de natureza obrigatória segundo os nossos cálculos na Tendências”, explicou.

O economista alertou ainda para o impacto da revinculação do salário mínimo aos gastos previdenciários. Segundo cálculos do Ministério do Planejamento citados por Nóbrega, essa medida custará R$ 1,3 trilhão em 10 anos.

“Se o presidente tivesse aceito a ideia proposta pela área econômica de desvincular, nós estaríamos em outro mundo”, argumentou o ex-ministro, expressando ceticismo quanto à capacidade do governo de apresentar medidas adicionais que possam gerar um resultado fiscal significativamente maior diante das limitações atuais.

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