O governo diz que a subida do PIB brasileiro no último trimestre demonstra que a política econômica está no caminho certo. E qual foi o caminho até aqui? Em boa parte, o estímulo ao consumo via crédito e transferências do governo federal para as famílias.
Como todo mundo sabe, números do PIB são um retrato do passado. Retrato que diz o quê sobre o futuro próximo da economia brasileira? Que ela está sobreaquecida, resultado exato do aumento dos gastos fiscais. Gastos que ganharam grande impulso na tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro, se estenderam pela PEC da Transição e prosseguiram com gosto no governo Lula três.
Estima-se que esse impulso teve impacto substancial na economia — era isso mesmo que o governo queria. A questão aqui é saber se esse impulso se sustenta e por quanto tempo. É nesse ponto que os números que o governo comemora se chocam de frente com a confiança dos agentes econômicos, pois sabe-se que existem limites para a expansão de políticas fiscais como a atual.
Uma economia estimulada a crescer acima de seu potencial, como acontece agora com a brasileira, acaba trazendo mais inflação, desvalorização do real, juros mais altos, mais dívida, sobretudo a pública, e, como consequência, menos atividade. Que terá de ser corrigida como, considerando-se a difícil situação de equilíbrio das contas públicas, resultado da política fiscal?
Parece uma perversão dizer que os números bons do passado não garantem um futuro risonho. Mas tratam-se de escolhas políticas. A do governo foi claramente a de privilegiar o ganho eleitoral em prazo curto, usando uma fórmula velha que até funciona por algum tempo. Algum tempo.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Waack: PIB alto não desfaz dúvidas sobre política econômica no site CNN Brasil.