O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve subir a taxa básica de juros Selic em 1 ponto percentual em cada uma de suas duas próximas reuniões, tendo à frente uma inflação acima do teto da meta em 2025 e um dólar perto de R$ 6, de acordo com boletim macroeconômico da XP divulgado nesta quarta-feira (4).
Em suas projeções econômicas de dezembro, a XP passou a ver a taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano, encerrando 2024 em 12,25%, ante 11,75% na previsão anterior. Após as duas altas de 1 ponto percentual em dezembro e janeiro, o Copom deve elevar a Selic mais duas vezes em 0,5 ponto, em março e maio, segundo suas estimativas.
Com isso, segundo a XP, o atual ciclo de aperto monetário encerrará com a taxa em um pico de 14,25%, ante 13,25% na projeção de novembro. Um ciclo de afrouxamento monetário no final do próximo ano deve permitir dois cortes de 0,5 ponto, levando a Selic a 13,25% no encerramento de 2025.
A mudança nas projeções ocorreram devido à análise de que “a tarefa do Copom de trazer a inflação à meta se tornou mais desafiadora”, disse o economista-chefe da XP, Caio Megale, no documento, citando uma atividade econômica aquecida, a aceleração da inflação e a desvalorização acentuada do real.
Esse cenário, de acordo com Megale, implica a necessidade de um “ajuste mais tempestivo” pelo Copom, justificando as mudanças nas projeções da XP. O BC também deve procurar ancorar as expectativas do mercado para indicadores, enfrentando a “tendência de desancoragem”.
“O mercado entrou em um estado de perda de referências. Cabe ao Banco Central trazê-lo de volta para os fundamentos”, disse Megale em coletiva de imprensa após a divulgação do boletim. Ele ainda apontou que as duas altas de 1 ponto percentual permitiriam que o BC não ficasse “atrás da curva”.
No entanto, as projeções da XP não indicam alívio para a inflação ou para a taxa de câmbio no futuro próximo.
O boletim prevê que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará este ano em 5%, ante 4,9% na projeção anterior. Em 2025, o índice deve acelerar para um avanço de 5,2%, de 4,7% na estimativa de novembro, e em 2026 desacelerar para 4,5%.
Em 2024 e 2025, portanto, a inflação ficaria acima do teto da meta perseguida pelo BC — com centro de 3% e uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — e em 2026 atingiria exatamente o teto.
Na frente do câmbio, a expectativa da XP é de que o dólar feche este ano em R$ 6,00, com uma leve queda para R$ 5,85 em 2025 e uma retomada dos R$ 6,00 no ano seguinte.
A XP também prevê que a demanda interna no próximo ano continuará robusta no Brasil, pressionando os preços, mas indica que o crescimento do país deve desacelerar. Após fechar 2024 com avanço de 3,5%, o PIB brasileiro deve expandir 2% no próximo ano e apenas 1,2% em 2026.
A perspectiva para o próximo ano de juros altos, inflação mais elevada e desaceleração da atividade levou os analistas da XP a projetar que 2025 será um período de “freio de arrumação”, segundo o documento.
Fiscal no Brasil e desafios globais
Na semana passada, o dólar ultrapassou a marca de R$ 6 pela primeira vez na história da circulação da moeda brasileira, em 1994, com o mercado reagindo negativamente ao duplo anúncio pelo governo de um pacote de medidas de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
O pacote, que prevê, uma economia de R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, foi bem recebido pelo mercado, mas os investidores foram pegos de surpresa pelo anúncio concomitante de um projeto que prevê a expansão da faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
De acordo com os analistas da XP, as preocupações do mercado com o compromisso do governo no equilíbrio das contas públicas e o debate sobre a reforma do IR devem ocupar as atenções dos investidores em 2025.
“A dívida pública vai continuar crescendo mesmo com o arcabouço fiscal e o pacote, porque o arcabouço é expansionista”, afirmou Megale na coletiva, apontando que as medidas fiscais anunciadas pelo governo apenas colocam os gastos discutidos dentro da regra fiscal.
Ele apontou a necessidade de debate de uma reforma administrativa e de uma nova reforma “ampla” da Previdência para que a trajetória atual da dívida pública seja de fato alterada.
Megale também disse ver a reforma do IR proposta pelo Executivo como “correta do ponto de vista da justiça tributária”, mas sinalizou para a incerteza sobre se o governo conseguirá aprovar no Congresso as medidas que indicou como compensação à renúncia de receita.
O próximo ano, segundo os analistas da XP, ainda traz uma série de desafios globais, com destaque para o novo governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cujas promessas de tarifas têm levantado as perspectivas de guerras comerciais e retorno da inflação global.
“Próximo ano traz maiores dúvidas. Devemos ter excepcionalismo norte-americano em voga, o que é bom para os EUA, mas para o mundo há tarifas, o que coloca maior pressão sobre os mercados emergentes”, disse Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP.
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